“A arte tem o poder de mudar pensamentos”
Cristina Candeloro, consultora de arte da MOS, fala sobre a importância da arte nos projetos arquitetônicos
“Conviver com obras de arte é uma oportunidade não somente de agradar o olhar na composição de um ambiente, mas de receber estímulos sobre assuntos diversos com soluções estéticas propostas pelos artistas”, diz Cristina Candeloro, consultora de arte da MOS. Segundo ela, assim como rampas, corredores, janelas grandes e jardins, as obras de arte pontuam lugares e favorecem trocas. Na MOS também acreditamos na arte como meio de impulsionar a dinâmica social, um dos motivos pelos quais ela está presente em todos os nossos projetos.
Na entrevista a seguir, Candeloro fala também sobre a função do consultor de arte e os processos de colaboração entre artistas e arquitetos na MOS: “É bastante prazeroso vivenciar isso. Remete a conversas que ouvi sobre artistas e arquitetos que cooperaram no passado, como Francisco Rebolo e Vilanova Artigas na década de 40”. Além de consultora, ela é também diretora da feira ArPA, ex-diretora da Galeria Luisa Strina e fundadora da kolekti, responsável por gerenciar coleções particulares, atender demandas de galerias e orientar comissionamentos e aquisições de obras de arte.
De que modo a arte pode transformar os ambientes em que vivemos?
A arte tem o poder de mudar pensamentos, de fazer com que a gente aprenda por meio do olhar e da subjetividade do trabalho artístico. Conviver com obras de arte é uma oportunidade não somente de agradar o olhar na composição de um ambiente, mas de receber estímulos sobre assuntos diversos – que nos são caros ou não – com soluções estéticas propostas pelos artistas.
De que maneira a arte nos prédios residenciais contribui para o valor do imóvel? Os compradores estão cada vez mais atentos a esses detalhes?
Acredito que o morador de hoje está atento a esses detalhes, sim. Quem visitar irá entender no ato que essa é uma das preocupações da MOS, que a incorporadora não apenas compra trabalhos de arte prontos em galerias, mas apoia que artistas produzam novas obras, incentiva-os. E entendo que acabo trazendo esse conhecimento para a MOS, de entender a importância de cada agente do mundo da arte, que é uma estrutura que depende de papéis diversos.
O nosso, aqui, é fazer com que determinadas obras de arte passem a existir, que sejam produzidas por meio de comissionamento. São obras que pertencem a coleções privadas (a dos moradores), mas que recebem cuidado como se fossem de acervos de instituições. Quero dizer, elas recebem um lugar fixo, não estão ali por tempo determinado, limitado. Fazem parte da concepção e construção de obras arquitetônicas da cidade. O visitante entende isso e o comprador, muito provavelmente, levou em consideração esse fator ao escolher a MOS.
Quais foram os seus critérios ao buscar obras para as áreas comuns do Sabino e do Melo Alves 645?
Ao pensar em ambientes que não pertencem a uma única pessoa ou família, temos que partir de um ponto em que as obras precisam ser mais abrangentes, seja nas formas, nas cores, nos materiais usados ou nos assuntos tratados. As três obras comissionadas para o térreo do Melo Alves 645 ficam entre o público e o privado. Existe uma grande responsabilidade na escolha delas, que serão vistas com frequência por moradores e visitantes, por isso a opção por artistas com importante produção – Ana Mazzei, Renato Rios e Felipe Cohen –, representados por galerias de renome.
Para o Sabino, chamamos Rodrigo Cass para uma oportunidade de extrapolar as mídias que ele já conhecia, além de experimentar uma obra em grandes dimensões. As soluções de materiais são diferentes das normalmente usadas por ele, que fará um mural em cerâmica e pastilhas e, em vez de usar uma tela como base, usará a fachada do edifício. Nesse caso, a obra virada para a rua acaba sendo pública, pertencendo à visão da população que passa em frente ao prédio.
Como é o processo de colaboração quando se trata de obras comissionadas especialmente para a MOS?
Existem diferentes etapas para as aquisições de obras de arte pela MOS: análise dos espaços do empreendimento, levantamento de artistas que temos em nosso radar, conversas com a equipe da MOS, conversa com o artista escolhido... Depois disso, inicia-se o processo de pensamento sobre a obra que será produzida. O artista discute com nossa equipe e são definidos os parâmetros. É interessante observar a troca entre artista e arquitetos e como um acaba interferindo na criação do outro de forma harmônica e construtiva.
Como as obras de Ana Mazzei, Felipe Cohen e Renato Rios comissionadas para a galeria privativa do Melo Alves 645 conversam entre si e se complementam?
As três obras são geométricas, formalistas, blocadas. Cada artista usa um material diferente (Mazzei com linhas em madeira, Rios com pinturas sobre tela e Cohen com sobreposições de placas de granito) e trata de temas distintos, mas todos possuem um conhecimento artístico muito aprofundado e trazem a História da Arte de forma bastante contemporânea ao morador do Melo Alves 645.
Como surgiu a ideia para o mural "Espaço Amoroso", de Rodrigo Cass, que ficará na fachada do Sabino?
"Espaço Amoroso", como o próprio artista diz, é um lugar de contemplação, de pausa. Ao entrar e sair do Sabino, há um tempo para a arte, um período entre o dentro e o fora, um momento de respiro, de apreciação. Rodrigo foi seduzido pela ideia de criar uma obra em grandes dimensões, praticamente pública e na qual houvesse a experimentação de novos materiais.
Houve bastante conversa com o Manoel Maia, sócio e arquiteto da MOS, inclusive nas decisões sobre as cores adequadas para as torres do edifício. Foi bastante prazeroso vivenciar isso. Remeteu a conversas que ouvi ou de que li a respeito sobre artistas e arquitetos que cooperaram no passado, como Francisco Rebolo e Vilanova Artigas na década de 40.
A integração entre arte e arquitetura proposta pela MOS de fato faz referência ao período modernista na arquitetura da cidade de São Paulo. Acha importante esse resgate e essa homenagem à cidade onde os projetos se situam?
Com certeza. Há esse resgate de se priorizar arte na arquitetura, que cede lugar de destaque, de discussões e colaboração. São Paulo é famosa por esse período da arquitetura e com essas ações, temos o desejo de continuidade.
Você acredita que a arte em espaços residenciais pode ser um meio de engajamento comunitário entre os moradores, um modo de impulsionar a dinâmica social?
Sim. Assim como rampas, corredores, janelas grandes e jardins, por exemplo, obras de arte pontuam lugares e favorecem trocas. Já ouvi muitos colecionadores dizendo que costumam olhar determinadas obras ao sair de casa, pois cada uma vai fornecendo mais informações ao longo do tempo. Há conversas, portanto, entre arte e apreciador, assim como entre dois espectadores em relação a um trabalho de arte.
Como a presença da arte em espaços residenciais evoluirá nos próximos anos? Isso será impactado pelas novas tecnologias?
Percebo um crescimento no interesse de incorporadoras e escritórios de arquitetura na aquisição de obras de arte. Concluo que o público esteja interessado nessa questão. Adquirir obras de arte em escala grande ainda deve seguir os empreendimentos de alto padrão, mas não sei se de maneira restritiva. Murais e grafites, por exemplo, acabam aparecendo pela cidade toda. Comissionados ou não. Em relação às novas tecnologias, já faz tempo que vemos esculturas feitas em impressoras 3D ou até fachadas que trocam de cor dependendo do som captado, por exemplo. Vai sempre depender dos interesses dos artistas, de quem comissiona a obra e de um trabalho coeso entre arquitetura e artes visuais.